No último dia 31 (sábado passado) fomos até Cuiabá participar do lançamento do cd do Macaco Bong juntamente com o Trilobit (PR). A cidade também conhecida como Hell City nos surpreendeu com um frio fora do comum e quase nos pega de calças e vestidos curtos. Bem, de qualquer forma pra gente 23 graus já é sinônimo de frio né? Rá!
A viagem de velho conhecido ônibus foi um tormento. Ida e volta. Estávamos naquela fase do mês onde tem coisa pra pingar no banco e não pinga e o que caracteriza situação periclitante de miserê. haha. Enquanto apertávamos os cintos e repetíamos mentalmente que jejum era bom para desintoxicar (glup!) nos animava a idéia de que após as 30 horas que nos separava de nosso destino encontraríamos a paz merecida. E foi o que aconteceu.
Foi nossa terceira vez em Cuiabá a convite dos parceiros do Espaço Cubo e seus braços de Shiva que não param de nascer (Volume, Casa Fora do Eixo, Misc, Próxima Cena...). A coisa andou crescendo por lá e o lema "Artista Igual Pedreiro", que é inclusive o nome do disco do Macaco Bong, tem arregimentado cada vez mais gente no intuito de fervilhar o mundo independente com suas idéias de autogestão e circulação de bandas através de várias frentes integradas. As cenas andam se organizando e cada cidade propõe seu modus operandi para lidar com as mudanças no mercado cultural, ocorridos ao longo desses últimos anos e em como lidar com as políticas públicas. Na questão organização coletiva os cuiabanos estão um passo a frente em minha opinião. Em Belém algumas frentes desse tipo já deram sinais de força em um passado nem tão remoto e agora o ressurgimento da Associação Pró Rock, aliada a criação do Mobip (Movimento de Bandas Independentes do Pará) e o Movimento Bafafá do Pará estão propondo várias ações. O Fórum Paraense de Música Independente é uma delas. Vou deixar dois links a quem interessar possa sobre algumas dessas discussões:
http://qualquerbossa.blogspot.com/
http://www.foradoeixo.org.br/
Passamos mais um dia do que o previsto em Hell "Ice" City e pudemos aproveitar mais daquele verde que nos é tão familiar já. Chegamos horas antes do show que faríamos mais tarde e fomos direto para o hotel fazenda maravilhoso com direito até ao pequeno zoo com onça, jacarés, jabutis, emas e capivaras a procriar. Me dá aflição ver os bichinhos presos , é verdade, mas olha... Ê beleza de lugar! Enchemos os pulmões de ar e batemos bons papinhos a beira do laguinho com os amigos Trilobits e Bongs. A noite o friozinho espantou parte do público, mas não foi menos calorosa a recepção. Snorks foi a banda que abriu a noite com seu baterista mirim. Não assisti já que estava jantando no restaurante ao lado com a banda, mas só ouvi bons comentários. Trilobit, nossos velhos conhecidos de festivais, entraram em seguida e balançaram my humps e dos presentes com seu eletro rock peso. Depois do show dos caras fui lá tietar na moral mesmo e realizei um dos meus sonhos tirando fotos beijando as bochechas do General Urko, o baixista macaco misterioso. hehe. Hora de aquecer para entrar no pequeno palco da Casa Fora do Eixo já que logo seria a nossa vez de entrar em ação. E foi ótimo gente! Não conseguia me movimentar muito por causa do pouco espaço e cai em cima do público algumas vezes (desculpem se machuquei alguém). Foi sensacional ver as pessoas cantando nossas músicas e rodinha de pogo se abrindo na hora de Caos.
O power trio mais hipnotizante que se tem notícia entrou em seguida. Macaco Bong lançava finalmente seu aguardado cd e foram recebidos com todo o respeito e admiração que merecem. Certamente uma das grandes bandas brasileiras em nossa opinião. Visceral do começo ao fim e o show só parou com o amplificador pifando depois de ser massacrado impiedosamente pelos riffs "Kayapístiscos". Consagração!
Pablo Capilé nos convidou para passar mais um dia na cidade e nem gostamos né? haha. Dia seguinte foi dia de pelada no campinho do hotel onde Edinho mostrou todo seu fôlego jogando incríveis 10 minutos e saindo pra galera após seu único gol cheio de manha. Saiu arfando, morrendo e jurando exercitar o corpinho. Mauricio, batera do Trilobit, foi a revelação do bate bola deixando até o moleque jurunense púco bom de bola, vulgo Ivan, passado com sua destreza. Até Bernie deu um tempo do notebook e suou os cachos. Eu no caso descansei os meus dormindo e Ícaro que não é bocó nem nada fez muitos "passeios ecológicos" enquanto aguardávamos a hora do almoço na casa de Dona Cecilia e Seu Quintão, pais de Bruno Kayapy. Qual não foi nossa surpresa, além do belo almoço que nos foi tão gentilmente oferecido por Dona Cecília, ainda tivemos açaí de sobremesa. Uma lágrima escorreu dos rostos dos papa-chibés presentes incluindo nosso "cigano" predileto, Renato Reis, amigo fotógrafo que se divide entre Acre, São Paulo e Cuiabá. Os outros Bongs, Ynaiã e Ney Hugo, disputaram os lugares à mesa e também a preguiça que se abateu sobre todos depois da barriga cheia.
Foram nossas últimas e agradáveis horas em Cuiabá e logo entraríamos novamente no ônibus que nos traria de volta a nossa casinha e a bagunça que ficamos de arrumar na volta. O monstro do armário da casa vermelha estava a nossa espera e era hora de partir. Ficaram beijos, promessas de parcerias, carinhos e agradecimentos aos Bongs, toda a produção, ao pessoal do Volume e seus jovens voluntários da música (Elimara, Paulo Kyd,Alfa, Fornalha do The Melt, Caio, Felipe, Chabô e todos que foram uns amores conosco, Pablo, Lenissa, Renato Reis, Trilobit, Marcelo Domingues e o público cuiabano , quente e intenso apesar do frio.:)
Essa foi uma das vezes onde o contraste diário a que somos submetidos ficou bem gritante. Como contei acima passamos um perrengue dos bons na viagem que acabou assim que botamos o pé lá e voltou assim que o retiramos. Fome de comida e fome de rock rugiam em nossas barrigas e corações e na estrada eu podia sentir os pensamentos dos meninos na mesma velocidade com que a paisagem ia mudando nas janelas. Sensações diversas a nos testar , fartura e escassez e a única coisa que não nos faltou foi nós mesmos.Vezes em silêncio e vezes rindo porque chorar só mesmo quando precisamos limpar a alma.
E isso minha gente, chama-se rock..n ..roll e quem for podre que se quebre.
bjs. samm.